sábado, 20 de outubro de 2012

Hawley e as mulheres.






Não tinha sorte o tal Hawley do Brooklin, sua vida era uma constante de ressacas homéricas e desilusões amorosas. Vivia debruçado sobre o balcão do bar, riscando poemas no vernizes gastos enquanto saboreava o vinho mais vagabundo que seu salário de escritor podia lhe oferecer.

Homem de poucos amigos, que aparentava ter muito mais idade do que realmente possuía, Hawley de fato não era um cara dos piores, sempre silencioso rabiscando aqui e ali alguns de seus poemas, arrotando o amargo ácido da bebida, algumas vezes no ápice de sua embriaguez punha-se a narrar suas peripécias sexuais que embrulhavam os estômagos mais desavisados dos poucos frequentadores da Taberna Minhota. Nessas horas da madrugada era quando o poeta vagabundo e beberrão mostrava-se um inseguro e apático conquistador quando narrava suas histórias e estórias.
Narrava com riquezas de detalhes sobre Katie sua primeira namorada, conheceram-se no colegial, planejaram juntos a viagem de fim de ano, eram um casal bonito apesar da diferença de idade, ele no último ano de estudo e ela recém apresentada aos estudos. Eram felizes e ele acreditava piamente no amor, sonhava com a noite a qual passaria as mãos pelas coxas brancas escondidas pelo grande e pesado uniforme negro do colégio, ia ser o primeiro, o único, iam inciar juntos. Foi numa tarde de verão, quando matou aula de álgebra para fazer uma surpresa a sua amada que lhe encontrou na sala de texto completamente nua e sorridente aos beijos com J.Bent seu companheiro no time de basquete.
Pobre Hawley, certa vez após torrar todo o salário de um mês em bebida e após vomitar todo seu salário na mesa, como de praste rompeu o seu silêncio habitual e escolheu mais uma mulher de sua coleção, Marine fora a escolhida.
Gastou um bom tempo descrevendo as curvas estonteantes do corpo de Marine, interrompendo apenas para sessões de vômito e mais goladas gigantes no copo de vinho. A moça segundo Hawley era uma ruiva de tirar o fôlego, que lhe fazia ferver o sangue e transpirar testosterona que exalava de sua mocidade, bem era pra ser apenas mais um belo orgasmo, porém por mais que a colocasse contra a parede nunca conseguiu lhe roubar mais do que apenas beijos que lhe serviam para estourar os instintos. Pobre Hawley fora usado e enganado pelo próprio pênis Marine era apenas um travesti de luxo que se apaixonara por ele durante uma jogatina em um bordel qualquer nos bairros sujos de L.A.
Foram Mônicas, Cassies, Katys, algumas mais novas outras mais experientes, todas o levaram para o mesmo lugar, o fundo de um copo de bebida.
Certa vez, Hawley não apareceu na sexta, nem ao sábado e domingo, o mesmo para o decorrer da semana e o restante do mês. Alguns clientes sentiram sua falta, de suas mulheres, de seus vexamos, o barman da Taberna convencido de que uma doença lhe ceifara a vida, sentia-se extremamente só nas madrugadas tristes que o Blues tocava solitário nos fundos do bar.
Algumas dezenas de semanas depois, lá estava Hawley de volta ao seu banco, dessa vez barba feita, cabelos penteados, camisa limpa e sem manchas de vinho, no lugar do copo de vinho uma caneca de chá, as unhas cortadas e no dedo uma grossa aliança de ouro.
- Casei-me! - Disse para espanto de todos que ali o conheciam.
Um sorriso elástico de uma ponta a outra das orelhas mostrava que o pobre Hawley de fato havia encontrado sua alma gêmea. E fazia questão de contar sobre tal ocasião a todos que ali quisessem ouvir.
- Nuca mais haverá de ouvir minhas lamúrias barman! Nunca mais - ria-se feliz, enquanto ia embora.
Sabendo disso, o Barman foi a adega e separou três garrafas do vinho vagabundo dizendo:
- Pobre Hawley, até amanhã, pobre Hawley.

Vinícius Victor A. Barros

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O ex-poeta da sala silênciosa.





Hoje sou aspirante a poeta e esse não é meu desconsolo maior.

Andava cansado, sonolento, tropeçando nos próprios cardaços sujos, melâncolico e com dores de cabeça. Não era a primeira vez que eu me sentia assim, tão logo sabia que também não era a última, emoções minhas que eram como ondas em um mar de emoções, aqueles sentimentos indo e voltando ao sabor do vento.
Coloquei-me a escrever, riscava enormes páginas de cima a baixo, numa cacofônia silenciosa do desespero, eis que então a mágica acontecia. Tomava vida os poemas, esvoaçavam as folhas, criaturas surgiam, tudo criava forma e sentido.
Pensei em ganhar dinheiro com minha mágica, fama, mulheres quem sabe? mostrei receioso algumas de minhas aberraçõeszinhas aos poucos amigos que ainda possuía mas para meu espanto eles não se admiravam e pareciam indiferentes quando um poema que segurava me mordia os dedos fazendo brotar densas gotas de sangue a esmo. Tratavam aquilo com uma tranquilidade e normalidade que me irritava deveras.
- Pro inferno todos vocês! - bradava, indignado.
Perdi meus últimos amigos, experimentei a solidão que contemplava todo os grandes poetas, entendi a maldição dos versos e meu choro de tinta escura borrava a ponta da caneta que continuava a metralhar mais e mais criações. Criações estas que agora enchiam a minha sala silênciosa, algumas gritando palavrões terríveis que acordavam os vizinhos durante as madrugadas lhes causando horror e repulsa, enquantos outros choravam sob os cobertores mofados balbucenado lamentações desconsoladas.
Não tinha descanso, minha cama fora tomada pelos monstrinhos, que zangados não me deixavam dormir, dando-me cascudos e beliscões a noite inteira.
O fato de todos tratarem tal fenônemo satânico com tranquilidade e normalidade me aborrecia cada vez mais. Algumas pessoas chegavam ao extremo de se constenar com os bichinhos dando lhes de comer e lhes afagando a barriga.
- Como podem apegar-se a estas monstruosidades? Não vês que são enviados do inferno para me torturar? - chorava.
- Olha como este é bonitinho, cobras quanto pela criaturinha?
Malditos, não entendiam e nunca iriam entender. Me sentia traído por todos e principalmente pelas minhas criações que atormentavam-me noite e dia, que galopavam minhas costas fazendo-me cada vez mais triste, magro e cansado. Decidi por bem por fim a tudo isso.
Foi em uma madrugada chuvosa, peguei o maior pote de tinta que possuía, escolhei bem a pena e me debrucei sobre o que viria a ser minha última obra prima, meu grande retalho de palavras que daria forma ao meu Frankstein, a minha mistériosa Gioconda a última pá de cal de minha sepultura.
Rabisquei, escrevi, sangrei até tê-lo terminado, era perfeito, o mais feio, tenebroso e íntimo poema de todos, exalando depressão e melâncolia, era o meu monstro. Pouco a pouco foi tomando forma, uma forma imensa, terrívelmente assustadora, figura cospida do mais profundo âmago amargo do ser humando, um diabo.
- Mata-me infeliz, ponha fim ao seu criador! - desafiei.
Aproximou de mim com sua bocarra horrenda, me embrulhando o estômago com o seu hálito de lágrimas. Olhou-me friamente na alma, quando já esperava pelo agrado da morte, encostou seu peito gigante ao meu abraçando-me e então chorou.

Vinícius Victor A. Barros