Bons tempos.
Minha
relação com a escrita esteve intimamente relacionada com a da leitura. Quando
tinha apenas oito anos, ganhei da minha mãe os meus primeiros livros
literários, uma coleção infantil com cerca de oito livros clássicos ilustrados
e adaptados para a idade. Entre eles me recordo de “Ali Babá e os 40 Ladrões”, “Os
três porquinhos” e “Branca de Neve e os sete anões”.
Encantado com o universo lúdico
apresentado por estes livretos, que tinham no máximo dez ou quinze páginas,
começou a produzir minhas próprias estórias, ilustrando-as de forma primitiva,
porém bastante divertidas.
Alguns anos mais tarde, descobri um
prazer imenso na leitura dos quadrinhos, comecei pelos clássicos “Turma da
Mônica” até as HQ’s de super-heróis como o “Justiceiro” e o “Homem-Aranha”,
hábito que não mantenho hoje por indisponibilidade de tempo, mas que sempre me
trás ótimas lembranças. Nesta época, comecei a desenvolver minhas próprias
histórias em quadrinhos, as escrevia e as desenhava com bastante vontade e
nenhum talento, diga-se de passagem. Nesta mesma época, houve no meu colégio,
creio que cursava a terceira série do ensino fundamental se não me falha a
memória, um concurso literário, onde quem desenvolve-se a melhor trama seria
premiado, prêmio este que não me lembro qual foi. Logo, escrevi e ilustrei um
livro sobre dragões e guerras medievais, tema que amava e ainda amo, e acabei
ganhando, em primeiro lugar, diga-se de passagem. No ano seguinte, empolgado
com a premiação do ano passado, escrevi e ilustrei um livro sobre faroeste com
tema western, de onde eu tirei as referências presentes no livro desconheço até
hoje, e com ele fui premiado outra vez. Hoje guardo estes livros com muito
carinho, são parte do meu passado ao qual tenho muito apego e que de certa
forma, por mais que sejam narrativas rasas com desenhos terríveis e com
caligrafia assustadora, ainda significam muito para mim.
Anos
se passaram e mantive contato apenas com os livros, com a mudança de colégio
não tive mais o incentivo por parte dos professores e da direção a escrever e
desenvolver minhas estórias. Mas nem por isso deixei de ser uma criança com a
imaginativa, daquelas que os professores taxavam como “no mundo da lua”, porém,
nunca transcrevi isto de fato para o papel.
E
foi assim por anos, me tornei pré-adolescente, viciado em livros e contos, mas
que escrevia apenas o básico exigido pelo colégio, provas e redações no máximo.
Eis que durante uma das minhas peregrinações pela internet, ainda na época do
saudoso Orkut, descubro um RPG online baseado na criação e descrição de
personagens, cenários e mundos inventados através de longas estórias. Creio que
foi a época mais próxima que eu tive da escrita, passava madrugas em claro
interagindo com escritores amadores, criando aventuras e sagas que duravam
meses e até anos. Foi uma época muito divertida da minha vida, lá conheci
amigos pelo Brasil inteiro que até hoje mantenho contato. Através desta rede
social desenvolvi e muito minha escrita, consumi mais que nunca literatura dos
mais diversos temas e gêneros.
Porém, o tempo foi passando e o RPG
foi substituído por responsabilidades de ensino médio e por uma vida social, as
narrativas on-line foram ficando de lado e até o gosto pela leitura arrefeceu.
Até que no último ano do ensino médio me vi obrigado a escolher um curso que
determinaria toda minha vida posteriormente, por influência de uma amiga muito
próxima optei por Jornalismo, não me soava mal ganhar a vida reproduzindo, e
inventando por que não? as mais diversas histórias. Veio o vestibular e com ele
a primeira reprovação, não fui aprovado, iniciei um curso que não condizia em
nada com o que eu tinha como objetivo, administração, e por um tempo minha
vontade de escrever morreu.
Até que minha primeira decepção
amorosa me fez criar um blog com a intenção de que determinada pessoa lê-se o
que eu sentia, como é cômica a imaginação de um jovem apaixonado de 17 anos.
Nunca surtiu efeito, mas o blog continua ativo até hoje, não para que a menina
possa ler, não ela, mas para que eu possa recordar de momentos como este na
minha vida. O blog inicialmente tinha o nome clichê “Café das 6” e fez até
algum relativo sucesso, algumas pessoas da faculdade e do meu ciclo de amigos
juravam acompanhar, nunca soube se era real aquilo, mas enfim, hoje o blog leva
o nome do meu conto favorito de Murilo Rubião, “O ex-mágico da taverna minhota”,
onde reproduzo desde pensamentos soltos, a cartas para que minha irmã mais
nova, hoje ela tem 6 anos, possa ler em um futuro que talvez eu já não esteja
mais aqui.
O blog se tornou uma forma de me
aproximar do futuro, escrevo cartas, conselhos, pensamentos gerais para que, se
algo aconteça, minha irmã saiba que estou presente mesmo na ausência.
Hoje não escrevo com a determinação
que eu gostaria, muito menos com a frequência, mas me faz muito bem rascunhar
algo que não tenha data de entrega, não tenha uma pontuação a ser obtida, que
posso errar e abusar da desconcordâncias verbais sem ser julgado ou penalizado.