domingo, 27 de novembro de 2016

Um eu e a escrita.

 Bons tempos.



Minha relação com a escrita esteve intimamente relacionada com a da leitura. Quando tinha apenas oito anos, ganhei da minha mãe os meus primeiros livros literários, uma coleção infantil com cerca de oito livros clássicos ilustrados e adaptados para a idade. Entre eles me recordo de “Ali Babá e os 40 Ladrões”, “Os três porquinhos” e “Branca de Neve e os sete anões”.
            Encantado com o universo lúdico apresentado por estes livretos, que tinham no máximo dez ou quinze páginas, começou a produzir minhas próprias estórias, ilustrando-as de forma primitiva, porém bastante divertidas.
            Alguns anos mais tarde, descobri um prazer imenso na leitura dos quadrinhos, comecei pelos clássicos “Turma da Mônica” até as HQ’s de super-heróis como o “Justiceiro” e o “Homem-Aranha”, hábito que não mantenho hoje por indisponibilidade de tempo, mas que sempre me trás ótimas lembranças. Nesta época, comecei a desenvolver minhas próprias histórias em quadrinhos, as escrevia e as desenhava com bastante vontade e nenhum talento, diga-se de passagem. Nesta mesma época, houve no meu colégio, creio que cursava a terceira série do ensino fundamental se não me falha a memória, um concurso literário, onde quem desenvolve-se a melhor trama seria premiado, prêmio este que não me lembro qual foi. Logo, escrevi e ilustrei um livro sobre dragões e guerras medievais, tema que amava e ainda amo, e acabei ganhando, em primeiro lugar, diga-se de passagem. No ano seguinte, empolgado com a premiação do ano passado, escrevi e ilustrei um livro sobre faroeste com tema western, de onde eu tirei as referências presentes no livro desconheço até hoje, e com ele fui premiado outra vez. Hoje guardo estes livros com muito carinho, são parte do meu passado ao qual tenho muito apego e que de certa forma, por mais que sejam narrativas rasas com desenhos terríveis e com caligrafia assustadora, ainda significam muito para mim.
Anos se passaram e mantive contato apenas com os livros, com a mudança de colégio não tive mais o incentivo por parte dos professores e da direção a escrever e desenvolver minhas estórias. Mas nem por isso deixei de ser uma criança com a imaginativa, daquelas que os professores taxavam como “no mundo da lua”, porém, nunca transcrevi isto de fato para o papel.
E foi assim por anos, me tornei pré-adolescente, viciado em livros e contos, mas que escrevia apenas o básico exigido pelo colégio, provas e redações no máximo. Eis que durante uma das minhas peregrinações pela internet, ainda na época do saudoso Orkut, descubro um RPG online baseado na criação e descrição de personagens, cenários e mundos inventados através de longas estórias. Creio que foi a época mais próxima que eu tive da escrita, passava madrugas em claro interagindo com escritores amadores, criando aventuras e sagas que duravam meses e até anos. Foi uma época muito divertida da minha vida, lá conheci amigos pelo Brasil inteiro que até hoje mantenho contato. Através desta rede social desenvolvi e muito minha escrita, consumi mais que nunca literatura dos mais diversos temas e gêneros.
            Porém, o tempo foi passando e o RPG foi substituído por responsabilidades de ensino médio e por uma vida social, as narrativas on-line foram ficando de lado e até o gosto pela leitura arrefeceu. Até que no último ano do ensino médio me vi obrigado a escolher um curso que determinaria toda minha vida posteriormente, por influência de uma amiga muito próxima optei por Jornalismo, não me soava mal ganhar a vida reproduzindo, e inventando por que não? as mais diversas histórias. Veio o vestibular e com ele a primeira reprovação, não fui aprovado, iniciei um curso que não condizia em nada com o que eu tinha como objetivo, administração, e por um tempo minha vontade de escrever morreu.
            Até que minha primeira decepção amorosa me fez criar um blog com a intenção de que determinada pessoa lê-se o que eu sentia, como é cômica a imaginação de um jovem apaixonado de 17 anos. Nunca surtiu efeito, mas o blog continua ativo até hoje, não para que a menina possa ler, não ela, mas para que eu possa recordar de momentos como este na minha vida. O blog inicialmente tinha o nome clichê “Café das 6” e fez até algum relativo sucesso, algumas pessoas da faculdade e do meu ciclo de amigos juravam acompanhar, nunca soube se era real aquilo, mas enfim, hoje o blog leva o nome do meu conto favorito de Murilo Rubião, “O ex-mágico da taverna minhota”, onde reproduzo desde pensamentos soltos, a cartas para que minha irmã mais nova, hoje ela tem 6 anos, possa ler em um futuro que talvez eu já não esteja mais aqui.
            O blog se tornou uma forma de me aproximar do futuro, escrevo cartas, conselhos, pensamentos gerais para que, se algo aconteça, minha irmã saiba que estou presente mesmo na ausência.
            Hoje não escrevo com a determinação que eu gostaria, muito menos com a frequência, mas me faz muito bem rascunhar algo que não tenha data de entrega, não tenha uma pontuação a ser obtida, que posso errar e abusar da desconcordâncias verbais sem ser julgado ou penalizado.

            Creio que desde meus primeiros livros rabiscados, passando pelos doloridos poemas de um pré-adolescente apaixonado chegando hoje às cartas que escrevo para um futuro indeterminado a literatura e principalmente a escrita foram, e ainda são, parte especial de mim, que me sustentaram e me guiaram na decisão do meu curso. Metade disto não teria acontecido se não fosse aquela tarde vagando pelo saudoso Orkut, obrigado tecnologia.