terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Sopro

Somos imortais, até que se prove o contrário. 
Vivemos nos equilibrando no fio da navalha, desprezando os ricos de uma queda. 
Somos um castelo de cartas resistindo bravamente ao mais tenro sopro da vida.


Nosso corpo é uma aspa que marca o início e o fim de uma frase, de uma fase, de uma vida.


Independentemente da proximidade, sempre que uma pessoa jovem se vai é como se um ciclo não tivesse se fechado, o que nos sobra é a incredulidade: "Como o mundo ousa continuar seguindo em frente enquanto há tanta dor aqui dentro?". As arestas que não aparamos são agora espinhos que se fincam nas memórias do passado, a cerveja daquele final de semana que desmarcamos por conta de uma chuva boba no fim da tarde, agora é apenas um desejo. 
Não consideramos a possibilidade do adeus, somos feitos para durar, somos feitos para resistir a rotinas massacrantes de estudo e trabalho, que nos sugam até os ossos a vontade de se importar com alguém além do nos mesmos no dia do amanhã. 
Respeitamos instituições de orgulho que nos impedem de nos importar, de pedir desculpas, de amar, respeitamos o irrespeitável silêncio e distanciamento de alguém. As pessoas se perdem, perdemos pessoas e tudo que nos resta são lembranças em uma rede social, com uma foto que você não lembrava da existência, apenas um desenho feito de luz e nostalgia.

Ciclos se encerram, é a lei da vida, o que não nos contam é que o orgulho, a timidez, o medo, faz com que esses ciclos se encerrem antes da própria vida. Algumas almas são grandiosas demais para levar consigo pedidos de desculpas, eu te amos e palavras amigas, isto deve ser feito em vida, antes que nos desequilibremos do fio da navalha.

Para Frederick Faria, ou Fred, ou Cabloco.